Pára. Que eu quero descer.
Sete da matina. Calor já infernal. Oitenta viventes se acotovelam por um pedaço de pau de arara em que se segurar. Oitenta quilômetros por hora, eis a velocidade tocada. Lá de trás, espremido feito uma sardinha, um cara alto grita: “Ô motorista! Não vai parar, não? Passou meu ponto, porra!”. Ao que o piloto responde: “É nada, m’ermão! Ali não é ponto, não! Cê tá maluco?”.
Segue-se o poético diálogo. Os dois homens embezerrados testam seus gogós pra ver quem relincha com mais macheza. Por fim, talvez lembrado da máxima que diz ter o cliente sempre razão, o motorista resolve parar o coletivo. Freada brusca. Ignorando o princípio da inércia, que o projetaria metros à frente, meu corpo, compactado por muitos outros corpos, não sai do lugar.
“Acho bom parar mesmo! Da próxima vez vai ter volta”, urra o passageiro. O condutor, prestes a liberar a porta de saída, muda, então, de idéia: “Ah, vai ter volta, é? Então fica esperando aê, m’ermão!”. E segue o barco. Ou melhor, o ônibus. Vendo serem em vão seus gargarejos, o cara alto ultrapassa o mar de gente. Empurra sem dó a velhinha espantada. Carrega em sua fúria a mochila da colegial. Salta sob roleta e, espumando, ata o pescoço do motorista entre seus dedos. O ônibus ziguezagueia sob a pista estreita de mão-única.
Encolhida perto duma janela, a menina de cabelos pretos começa a chorar de medo. É então que tudo cessa. E, talvez lembrando da máxima que diz sermos gente civilizada, o motorista aciona o botão e ejeta o rapaz de sangue fervente. No interior da condução, dois segundos de silêncio constrangido.
Segue-se o poético diálogo. Os dois homens embezerrados testam seus gogós pra ver quem relincha com mais macheza. Por fim, talvez lembrado da máxima que diz ter o cliente sempre razão, o motorista resolve parar o coletivo. Freada brusca. Ignorando o princípio da inércia, que o projetaria metros à frente, meu corpo, compactado por muitos outros corpos, não sai do lugar.
“Acho bom parar mesmo! Da próxima vez vai ter volta”, urra o passageiro. O condutor, prestes a liberar a porta de saída, muda, então, de idéia: “Ah, vai ter volta, é? Então fica esperando aê, m’ermão!”. E segue o barco. Ou melhor, o ônibus. Vendo serem em vão seus gargarejos, o cara alto ultrapassa o mar de gente. Empurra sem dó a velhinha espantada. Carrega em sua fúria a mochila da colegial. Salta sob roleta e, espumando, ata o pescoço do motorista entre seus dedos. O ônibus ziguezagueia sob a pista estreita de mão-única.
Encolhida perto duma janela, a menina de cabelos pretos começa a chorar de medo. É então que tudo cessa. E, talvez lembrando da máxima que diz sermos gente civilizada, o motorista aciona o botão e ejeta o rapaz de sangue fervente. No interior da condução, dois segundos de silêncio constrangido.
“Armaram um berreiro infernal, faca, pau, cano de ferro e quebra-quebra, correndo descontrolados, contagiando a massa com excitação, feito estouro de boiada. Naquele momento, olhou pela janela do xadrez e viu o pelotão de Choque enfileirado na porta de fora do pavilhão, de máscara ninja cobrindo o rosto, escudo, metralhadora e a cachorrada. Nos andares, agitados como formigas antes do temporal, os detentos queimavam e destruíam o que estivesse ao seu alcance.” [Drauzio Varella, em Estação Carandiru]
Texto redigido em 25 de Setembro de 2004 , no Rio de Janeiro
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