Caxola

Idéias flutuam pela ruas da cidade. Nadam pelos ares em busca de ouvidos atentos e ansiosas por olhos curiosos. Meu prazer voluntário é capturá-las, vesti-las de sedas e traduzi-las em palavras. No Caxola, a beleza acre do cotidiano veste traje de gala.

quarta-feira, agosto 07, 2019

O moranguinho

Fui ontem ao Instituto Chão, aqui em SP. Eles reúnem e vendem alimentos orgânicos cultivados por pequenos produtores. Comprei uma caixinha de morangos.

Hoje lavei um a um os moranguinhos, coloquei numa tigela bonita, branca e azul. Cada morango tinha um tamanho, um tom de vermelho. Dois apodreceram na caixa.

Levo à mesa e sento diante daquele buquê.

Não lembro quando comi morangos pela última vez. Talvez dentro de algum bombom, envolto em brigadeiro. Sei que desde o começo do inverno namoro morangos no mercado. Aquela caixa enorme, grandes bolas vermelhas, inchadas, a ostentar um brilho parelho e estático. Cheguei a colocá-las mais de uma vez no carrinho. Devolvi. Morangos de supermercado me lembram minhas colegas de Porto Alegre depois de uma sessão de bronzeamento na máquina.

Eis-me aqui diante dos moranguinhos orgânicos. Vieram do interior de Minas, li na caixa. Sítio Primavera.

Sofro de transtornos alimentares desde os 10 anos de idade. Estou em processo de cura há 10 anos. Parte do meu tratamento é sentir os alimentos, antes de mastigá-los. Sou aquela pessoa estranha que cheira quase cada garfada – e só depois põe na boca.

Sem que eu aproximasse o rosto, o cheiro dos moranguinhos sobre a mesa serpenteia em minhas narinas. Não invade. Gentilmente se mostra, como a água de um mar manso chega à praia e nos molha os dedos dos pés.

Eu sorri.

Escolhi o menorzinho deles. Vermelho claro. Desbotado perto do caule. O caule cortado sem simetria. Será que arrancaram do pé com as mãos? Ou tiraram com uma faca? Não parece o corte preciso de uma tesoura. Cada caule remanescente tem uma forma única.

Trago o moranguinho à boca e, mesmo ele sendo pequeno, mordo só a metade.

Caldo, maciez, doçura. A textura. Ah, a textura.

Penso na lista de agrotóxicos liberados no país, no sorriso de escárnio dos agro-políticos, em quem chama veneno de defensivo.

O moranguinho do Sítio Primavera é um rebelde entre morangos parrudos, reluzentes e padronizados do supermercado. O moranguinho, chego a pensar, está em extinção. Em poucos anos pensarão que morango é um sabor de iogurte.

Meus olhos se enchem de lágrimas.

Não só de tristeza. Também de tristeza, mas não só. O moranguinho é delicioso. Como com presença e devoção. Sinto cada sementinha, cada suculência. Experimento diferentes formas de extrair da fruta o cabinho. Arrisco colocar um inteiro na boca. Desvendo com língua e dentes cada parte dele.

De repente, não há mais nada no mundo: só esta garota e seus moranguinhos. Envolvo a tigela com a mão direita. Com a mão esquerda, pinço mais um. E agradeço. De coração inteiro.


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quarta-feira, dezembro 24, 2014

Seis conselhos para um feliz Natal

Desejo que você tenha um dia e uma noite felizes. Depois, outro dia e outra noite felizes. E mais um e mais outra. Desejo que você viva cada dia e cada noite com a alegria de uma criança na festa de Natal.

Respire e sinta aliviar a expectativa de abrir embrulhos e de atacar a ceia. Viva no presente. Feliz porque os convidados chegaram, porque eles sentaram no sofá, porque você pode vê-los e ouvi-los, sentir o cheiro do cabelo deles quando os abraça. Um minuto de cada vez. Desfrute.

Não se antecipe. Não pense nisto agora. Mas, quando chegar a hora da festa, abra a porta e sorria. Esteja presente no momento mágico de girar a maçaneta e deixar entrar alguém especial e amado. Acolha-o, faça com que se sinta confortável. Deixe que ele repouse sobre a mesa o prato que trouxe, que guarde na geladeira a bebida. Deixe que se sinta em casa. Deixe fluir. Agradeça.

Sei que você se sente ansioso. Tantas tarefas em tão pouco tempo. Tantos gastos, tanta expectativa. Tudo sairá bem. Tudo o que você fez – o presente arranjado às pressas ou planejado com dois meses de antecedência; a sobremesa da padaria ou preparada ao longo de dias – vêm do melhor que você pode oferecer. A festa de Natal da propaganda só existe... na propaganda. Desencane.

A felicidade não virá de uma árvore perfeitamente decorada, de uma mesa impecável, nem de presentes caros. A felicidade não está ao alcance do seu cartão de crédito. Compre presentes, se as finanças permitirem. Mas tenha consciência de que o preço deles nada tem a ver com o valor de você mesmo ou da pessoa presenteada. Um presente não compra um coração. Desapegue.

Possivelmente faltará alguém na sua festa de Natal. Alguém que está longe, doente ou que partiu. A todos nós faltará. Não há casa neste Natal sem uma cadeira vazia. A noite de Natal, assim como a vida, é feita de incompletudes. Pouco podemos fazer para mudá-las. Por isso, antes da festa, conecte seu coração com quem está ausente – telefone, escreva um e-mail, faça uma oração ou uma meditação. Depois, tenha o melhor dia e a melhor noite possíveis, em honra daqueles que não estão aqui. Aceite.

Talvez você não siga uma religião e ache o Natal uma data tola ou comercial. Talvez a euforia desta época o irrite. Está tudo bem. É você quem faz o dia. O Natal representa o nascimento de Jesus Cristo, símbolo de doação em nome do amor. Comemore, então, o nascimento do amor. Deixe florescer. Celebre.

Se nenhum desses conselhos servir, jogue-os fora. Sem dó. E escreva você mesmo o seu novo Natal.

"Eu cheguei. Eu estou em casa. No aqui. No agora. Eu sou sólido. Eu sou livre. Eu resido em mim." [Thich Nhat Hanh, mestre zen budista]

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domingo, setembro 14, 2014

A pergunta

Sou mulher. Casei há pouco mais de um ano. Completo 30 anos daqui a três meses.

Qual a primeira pergunta que te vem à cabeça?

“E filhos? Você quer?”
Aposto!

Depois do casamento, perdi a conta das vezes em que fui questionada sobre isso. E não só por pessoas próximas. Por quem mal conheço. Por quem acabei de conhecer. Em encontros de amigos e em entrevistas de emprego. Levo um susto cada vez que ouço a pergunta.

Ela aparece volta e meia quando estou entretida brincando com alguma criança. “E filhos? Você quer?” Poxa, eu só queria comer o meu bolinho! Não! Eu só tô brincando com ela. Acho divertido. Sinto falta de crianças por perto desde que mudei da cidade onde moram meus primos - que já cresceram. Sou assim atenciosa com velhinhos também. Eu juro.

Penso em todas essas respostas, mas nunca as articulo. Sempre sorrio envergonhada e digo: “Ahã, quero sim. Um dia.” Me parece a forma mais simples de abreviar o assunto.

A verdade: eu não faço a menor ideia! Não quero pensar nisso agora, não quero ser cobrada. Me deixa! Sai daqui! Ok, menos, menos.

Sei que meus óvulos vão ficar velhos e tal. Sei que, mais tarde, posso me arrepender de não ter engravidado antes. Sei que posso não conseguir engravidar quando tiver 35 anos. Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! Oh, wait... eu nem sei se quero filhos. Com o que estou preocupada?

Não, minha carreira não está acima do meu desejo maternal. Estou em paz com minhas escolhas profissionais. E em paz com minhas escolhas pessoais. A casa fica vazia às vezes? Sem dúvidas. Mas a casa de quem tem filhos não fica assim também – mesmo em meio ao caos de fraldas, choros, gritos e gargalhadas? Onde está o vazio afinal? Aqui fora? Ou aí dentro? É justo gerar um ser para preencher o vazio dentro de casa? Ou um vazio dentro do peito? Para que afinal você quer um filho - aos 20, 30 ou 40 anos? E mais: é preciso mesmo pensar tanto em ter ou não ter um filho?

Digo tudo isso, veja bem, sem amargura. Não fico brava com o questionamento nem culpo quem o faz. Entendo o motivo. Sou mulher. Casei há pouco mais de um ano. Completo 30 anos em três meses.

É igual quando a gente namora há anos e tem de responder o tempo todo ao fatídico: “E o casório? Sai ou não sai?” Quando a gente entra no ensino médio e tem de esclarecer ao mundo: “Vai prestar vestibular pro quê?” Quando a gente vira adolescente e ouve das tias: “E os namorados?” Quando a gente ganha um irmão mais novo e...: “Tá cuidando ou tá com ciúmes?”

A vida é uma ciranda de sinucas de bico. As pessoas fazem umas às outras as mesmas perguntas, sem parar. Sem pensar. Sem ouvir a resposta. Pouco importa a resposta. O fundamental é pontuar, a cada fase da vida do outro, o que o mundo espera dele. Controle os ciúmes, arranje um namorico, escolha Medicina ou Direito, case logo de uma vez, tenha um filho. E, de preferência, mais um outro.

Por vezes, essas questões são apenas para puxar papo. Se assim for, proponho uma lista de alternativas gentis, para quando surgir aquela vontade irresistível de cobrar seu interlocutor. Fique à vontade para copiar, fazer uma colinha, acrescentar perguntas e praticar. Pratique muito!

- Será que chove?
- Esfriou, né?
- E essa eleição, hein?
- Bonito seu cabelo. Você corta onde?
- Tava trânsito?
- Você é [insira aqui a ocupação da pessoa], né? Como é?
- Você é [insira aqui a cidade natal da pessoa], né? Como é lá?
- Em matéria de sorvete, morango, creme ou chocolate?
- Grifinória ou Sonserina?
- Beyoncé ou Lady Gaga?
- Doce ou salgado?
- Praia ou campo?

- E feliz? Você quer ser?



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terça-feira, abril 29, 2014

Anjo negro

Cruzei com ele quando subia o último quarteirão antes de alcançar minha rua. Eu trazia na sacola pão, queijo e mortadela. Nos ombros, o cansaço de onze horas de trabalho. Era tarde já.

Ele mal me viu. Eu nunca deixaria de notá-lo.

Com o focinho rente ao chão, parava em cada canteiro a buscar não sei o que. Pequeno, preto e com as orelhas apontadas para o céu escuro. Tufos de pelo branco denunciavam sua idade.

Meu coração derreteu-se. “Vem cá, vem cá. Toma um naco de mortadela. Pega um pouco de pão.” Assoviei. Bati a palma da mão nos meus culotes.

Aproximou-se, cheirou a comida, a dispensou. Interessou-se em mim. Cheirou minha perna e minhas mãos. Abanou de leve a cauda. Deixou-me tocar o alto de sua cabeça. Tudo com comedimento.

Convidei-o a andar comigo. “Vou levá-lo pra casa”, pensei. Enumerei: tenho uma boa almofada que lhe servirá de cama, preparo arroz e peixe e amanhã vamos ao veterinário. Se estiver bem de saúde, buscamos um lar definitivo. Está feito.

Meu cérebro corria. Meu companheiro andava como um senhorzinho. Não percebi quando me tomou a dianteira. Íamos os dois. Pela rua escura.

Mal reparei quando ele virou à direta em duas ruas. Podia seguir reto. Mas virou – antes de eu esboçar direcionamento. Foi dar na frente da minha casa.

Incrédula, peguei a chave para abrir o portão. Lançou-me o olhar solene de quem encerra uma missão. Acelerou o passo e dobrou a esquina. Ignorou meus chamados.

Eu pensava que eu o protegia. Era ele quem velava meu caminho.

"So why, why would you talk to me at all. Such words were dishonorable and in vain. Their promise as solid as a fog. And where was your watchman then?" [Guardian, de Alanis Morissette]



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domingo, fevereiro 23, 2014

Jornalista é Deus?


Não, não é. Jornalista é jornalista. Não é manifestante. Não é polícia. Não é bandido.

Uma das minhas tarefas como consultora de comunicação consiste em formar porta-vozes. Começo o treinamento perguntando qual a impressão deles sobre os jornalistas. “Eles não escrevem o que falamos. Distorcem a informação.” Peço exemplos. Nunca apareceu um que, de fato, caracterizasse falha de conduta. Confundem edição, ordem do dia e noticiabilidade com manipulação. São pessoas bem informadas e competentes em sua área de atuação, mas que não tomaram contato com conceitos de jornalismo. Se eles não tomaram, percebi dia desses, dificilmente a maioria da população brasileira tomou. Ou seja, ninguém sabe para que servem jornalistas e uma imprensa livre. Possivelmente, pouca gente vê significado em um jornalista ser preso, agredido, morto.

E quando um é assassinado, como foi o cinegrafista Santiago Andrade, enquanto segurava sobre o ombro sua câmera durante um protesto no Rio, questiona-se: “Jornalista acaso é Deus para sua morte ser tratada com tanto destaque?” Não, não é Deus. Toda violência e todo crime devem ser investigados, combatidos e punidos dentro da lei. Mas preservar o trabalho e a vida do jornalista é indispensável para que violências e crimes sejam investigados, combatidos e punidos, dentro da lei. Quando morre um jornalista, a democracia sangra. Quando se prende um jornalista no exercício da profissão, subtrai-se do público o direito de acesso à informação isenta.

O jornalista não opta por estar no fogo cruzado. Não tem lado. Não tem, muitas vezes, sequer o equipamento certo para se proteger. Ele está sim em uma categoria à parte, ainda que não acima nem abaixo de ninguém. A função dele é ser os olhos e os ouvidos do povo. Fui repórter por sete intensos anos e garanto: é esse o espírito que move quem vai às ruas cobrir chacinas, acidentes e tantos outros acontecimentos de que qualquer ser humano de mente sã tomaria distância.

Jornalistas vêm sendo hostilizados por gente que sequer lê o jornal do dia. Não recebem críticas, mas sim ataques gratuitos, baseados na reprodução de um discurso vazio, segundo o qual qualquer veículo de comunicação mente, manipula e oprime. Nessa visão doente, os repórteres são a encarnação do mal, os agentes a serem xingados, surrados e eliminados, por um bem maior. Não se sabe qual. Temos de lutar por uma imprensa mais plural? Sem dúvida. Mas isso não se faz aniquilando aquela que aqui está.

Some-se a isso a natureza truculenta das polícias no Brasil, resumida na fala do governador paulista Geraldo Alckmin: “Quem não reagiu está vivo.” Diante de um cenário de ebulição popular que ninguém até agora conseguiu compreender em sua totalidade, Alckmin e outros governantes agem por desespero e, na tentativa de preservar a própria imagem em ano eleitoral, dão ordem à polícia para atirar antes, perguntar depois. Criam absurdos como a tal “Tropa do Braço”, formada por policias especializados em dar gravatas. Segure a mão espalmada na frente do seu pescoço e aperte. Ruim? Imagine isso com a força de um impiedoso lutador de jiu-jitsu.

A polícia não respeita e não preserva os jornalistas. Quebraram intencionalmente um sem número de câmeras e celulares ao longo dos últimos protestos. Lembram-se da mentalidade equivocada sobre o jornalismo de que falei no início do texto? É ela quem fala aqui mais uma vez. Banco de dados da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) mostra que houve 119 violações contra jornalistas desde 11 de junho de 2013, sendo 92 cometidas pela polícia e 26 por manifestantes. O levantamento não inclui dados de ontem, quando cinco colegas foram presos e ao menos dois agredidos pela PM quando cobriam um protesto no centro de São Paulo.

Um dos detidos foi meu marido, Paulo Toledo Piza, repórter experiente, especialmente na cobertura de conflitos e casos policiais. Em meio a uma confusão entre manifestantes e a PM, fez o que se faz nesses casos: foi para perto da parede de um prédio e agachou, para se proteger. A polícia encurralou justamente os que estavam fugindo do conflito e os deteve “para averiguação”. A alegação, lemos depois no noticiário: “suspeita de prática black bloc”. Paulo mostrou o crachá de repórter para os policiais, explicou que estava ali a trabalho. A resposta: “Foda-se.”

Foi liberado só 30 minutos depois.

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domingo, dezembro 29, 2013

Lúcio procura uma casa para bagunçar


Oi, meu nome é Lúcio. Mas pode me chamar de Sr. Diversão.

De cara, pareço muito com a Lua, gatinha resgatada pela Carol há algum tempo, mas sou menino, viu? Devemos ter algum parente em comum. Sabe como é a vida nas ruas... Não sabe? Pois eu conto: uma aventura. A comida é pouca, o chão é quente e a chuva sempre pega a gente desprevenido. Mas nada é pior do que a sede. Tudo fica ainda mais complicado quando você é um gatinho magrela, perdido da mamãe e dos irmãos. Sozinho no mundo.

Eu estava em apuros, choramingando muito e com fome, quando resolvi atravessar uma avenida perto do parque onde me deixaram. Minha barriga roncava e eu precisava achar comida. Não sei se foi uma boa ideia. Não parava de passar carro! Mesmo assim, fui destemido: eu consigo! Lá vou eu! Biiiip biiip. Sai, seu carro, lá vou eu!

E eis que sou agarrado por duas mãos que me erguem do chão. Por um triz, não virei patê, me diz a dona da mão e o moço que segurava a mão dela. Eram Carol e Paulo.

Ela me deu colo e afagou minha cabeça. Por um minuto, pensei que estava de novo junto à mamãe e tentei mamar. Não era mamãe. Miei, miei, miei. Até que me acalmei. Não era mamãe, mas era gostoso mesmo assim. Melhor ainda quando o moço me deu uma papinha improvisada a partir de uma barra de cereais. Devorei com uma fome de leão!

Dali eles me levaram num cara chamado veterinário. Eu não conhecia, mas, olha, já visitei lugares melhores, viu? Apesar de muito simpático, o moço aparou minhas garras, fez eu tomar um remédio para evitar lombrigas e – pior! – me mandou para o banho, vocês acreditam! Saí de lá todo cheiroso e fofo. Parecia até um gato de madame.

O doutor disse que eu tenho cerca de 2 meses e que estou muito saudável. Nem pulga eu tenho! Na próxima semana farei minha primeira vacinação – será que vai doer? E estarei prontinho para ir para um lar definitivo. Eu gosto da casa do Paulo e da Carol, mas parece que um tal de Joca já é o dono do pedaço por aqui. Humpf, cachorros!

O sortudo que me levar para casa terá diversão garantida. Eu brinco até com o meu próprio rabo. Meu esporte favorito é dar piruetas no ar. A vida é muito boa, não é? Ainda mais quando se tem um sofá fofo para deitar a cabeça e um prato de ração sempre abastecido. Nham!

Apesar de bagunceiro, já aprendi direitinho onde fazer xixi e cocô. E fico sozinho em casa numa boa, sem fazer escândalo. Sou gato de rua, mas não sou maloqueiro, né!

Ah, e amo humanos. Amo, amo e amo. Se eu pudesse, viveria como um carrapato grudado neles. A Carol morre de rir porque, desde o primeiro dia, eu escalo o Paulo para dormir no ombro dele, bochecha com bochecha. Assim me sinto seguro.

Pronto para pôr mais cor na sua vida?

Escreve pra carolinadiasfreitas@gmail.com :o)

Miau!




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sábado, outubro 19, 2013

Os beagles da Royal e a fé inabalável na ciência

O beagle Joca: sim, ele sente. Foto: Paulo Toledo Piza
O beagle Joca: sim, ele sente. Foto: Paulo Toledo Piza

Ah, a ciência, essa encantadora ninfa de olhos azuis. Por ela, tudo. O resgate dos beagles do Instituto Royal, em São Roque, trouxe à tona o debate sobre o uso de animais em testes de laboratório. A discussão ainda é incipiente no Brasil, mas é muito bom que tenhamos começado a falar sobre o assunto.

Tenho lado. Sou protetora e apaixonada por bichos. Aderi ao vegetarianismo há um ano, desde que li os primeiros estudos sobre a capacidade dos animais de sofrerem. Em julho de 2012, em uma conferência em Cambridge, 25 neurocientistas de todo o mundo assinaram um manifesto afirmando que mamíferos, aves e polvos têm consciência. Ou seja, sofrem.

"Não acho ser necessário tirar vidas para estudar a vida. Precisamos apelar para nossa própria engenhosidade e desenvolver tecnologias para respeitar a vida dos animais", disse à época um dos signatários do manifesto, o neurocientista canadense Philip Low, pesquisador da Universidade Stanford e do MIT.

Tenho lado. Há cinco anos, vivo com um beagle. O nome dele é Joca. Ele fecha os olhos quando o vento lhe bate no focinho. Deita a cabeça no meu colo quando estou triste. Sorri com o corpo todo quando está na grama, ao sol, ao lado de outros bichos. E late para o fogão quando estou comendo na sala, para que eu levante e vá ver o que há – enquanto ele rouba meu sanduíche de cima da mesa.

Tenho lado. E tenho honestidade intelectual, portanto, estou aberta ao debate.

Em julho, passou a valer na União Europeia uma lei que proíbe testes em animais na indústria de cosméticos e a comercialização desses produtos na região. No Brasil, os experimentos são permitidos desde que aprovados por conselhos de ética, compostos majoritariamente por pesquisadores. O funcionamento é semelhante ao daqueles conselhos e daquela ética que livram políticos da cassação. Deputados julgam deputados. Senadores julgam senadores. Cientistas julgam cientistas.

O curioso, nesse início de debate, é como alguns durões - para sustentar a fama de mau - passam a confiar cegamente nas instituições. A linha argumentativa: “a sociedade científica brasileira diz que não há crueldade no Caso Royal”. Em nome da ciência, pesquisadores alemães tentaram mudar a cor dos olhos de bebês com injeções, jogaram pessoas em água gelada para testar a resistência do corpo à hipotermia e dissecaram irmãos gêmeos vivos. Tudo isso por considerar as ‘cobaias’ como sub-humanos.

Você realmente precisa de um especialista para conceituar crueldade e maus-tratos? Você precisa de um especialista para dizer se algo dói?

O que está em discussão não é o sentimentalismo de quem se comove com cães fofinhos. É o nosso próprio sentido de humanidade. Quão humano você é?

“Quando a aplicação tecnológica das descobertas cientificas é clara e óbvia – como, por exemplo, quando um cientista trabalha com gases que atacam o sistema nervoso -, ele não pode propriamente alegar que ‘nada tem a ver’ com essas aplicações, sob o pretexto de que são os militares, e não os cientistas, que usam os gases para aleijar ou matar”, John Passmore, filósofo australiano, citado em O Mundo Assombrado Pelos Demônios, de Carl Sagan.

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terça-feira, julho 16, 2013

Tempo

A vida traz riso, choro, rugas, quilos. A vida pesa e compensa. Balança, cai, levanta. Nossa pele perderá o viço, enrugará e se pintará de manchas. Nossos cabelos hão de se escassear, embranquecer. Teremos filhos. Netos. Bisnetos. Nossos olhos – em um paradoxo – serão outros e, ainda, os mesmos. Desde que olhemos, lado a lado, na mesma direção.

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quinta-feira, junho 20, 2013

Um discurso para Dilma Rousseff

Resolvi dar uma mãozinha para encorajar a presidente a falar. Uma dica, Dilma: soa melhor quando lido com o coração. 

Brasileiros e brasileiras,

Eu ouvi o grito das ruas.

O grito por melhorias no transporte, na saúde, na educação. O grito contra a corrupção e o fisiologismo. Brasileiros e brasileiras, eu ouvi o grito de cada um de vocês.

E, no grito desse povo sofrido, entendi que o que estou fazendo é pouco. Eu, como líder da Nação, venho até vocês reiterar o compromisso firmado quando assumi o cargo de presidente: de lutar por um Brasil mais justo, rico e próspero.

Reassumo esse compromisso com o ânimo renovado, pois sei que conto com o apoio de milhares de brasileiros que querem um Brasil melhor. Vocês foram às ruas, caminharam quilômetros, deixaram de estar com suas famílias e arriscaram a própria pele para mostrar às autoridades que já não se contentam com o que aí está.

Pois, brasileiros, eu entendo o que vocês dizem. Comprometo-me a trabalhar, com todas as minhas forças, para transformar os pedidos de vocês em ações práticas. O momento agora é de refletir sobre propostas que surgiram no caldeirão de manifestações e iniciar um debate organizado e produtivo sobre como transformá-las em políticas públicas para melhorar o transporte, a saúde, a educação. Para melhorar o nosso Brasil.

Uno a minha voz ao grito do povo para liderar a mudança que os brasileiros e brasileiras pedem. Mude, Brasil. Mude, mas continue sempre esse país plural, trabalhador e, acima de tudo, democrático.

Nesses dias de protesto, houve excessos por parte de policiais e de grupos de manifestantes. Não sossegarei enquanto não forem investigados e punidos todos os responsáveis por ferir pessoas, destruir prédios e saquear lojas. Quem se aproveitou de protestos pacíficos para tentar fincar bandeiras de ódio e de intolerância fracassou.

A lei brasileira protege o cidadão, o trabalho da imprensa e a memória do país. Ninguém será preso sem respaldo legal. Nenhum jornalista será constrangido no exercício de sua profissão. Nenhum prédio público terá as janelas estilhaçadas. A isso chamamos democracia.

Brasileiros e brasileiras, somos grandes. Juntos, somos gigantes. Conto com vocês para construirmos o Brasil que merecemos.

Muito obrigada!

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sábado, maio 11, 2013

Um só coração


Ela andava triste. Suspirava como a tentar puxar no ar o cheiro do passado. Suas duas filhas sairiam de casa naquele ano. Um ano, duas despedidas. Sabia que poderia vencer a distância, mas tudo agora parecia um ponto final. O convívio diário, os hábitos, a certeza de que as duas estariam sempre ali, ao alcance de seus braços. Nada como antes.

E se esquecessem a luz ligada ao dormir? E se precisassem ir até um lugar longe num dia de chuva? E se tivessem dor de estômago de madrugada? Quem as acudiria?

Ao mesmo tempo, pensava se tinha ensinado às filhas todo o necessário. Teria esquecido algo? Pensava. E lhe vinham à cabeça desde as coisas mais prosaicas até as mais exuberantes. Impossível ter certeza. A única certeza era a saudade.

Aniversariava uma semana antes do dia das mães. E foi quando suas filhas lhe surpreenderam com uma caixinha preta. Abriu o embrulho, desfez o laço. Dentro, uma corrente, com suas duas pequenas em forma de pingentes. Para lembrar que não há distância no mundo capaz de separar o coração de uma filha do coração de sua mãe.

"Settle down, it'll all be clear. Don't pay no mind to the demons. They fill you with fear. The trouble it might drag you down. If you get lost, you can always be found. Just know you're not alone. 'Cause I'm going to make this place your home." [Home, Phillip Phillips] 



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