Caxola

Idéias flutuam pela ruas da cidade. Nadam pelos ares em busca de ouvidos atentos e ansiosas por olhos curiosos. Meu prazer voluntário é capturá-las, vesti-las de sedas e traduzi-las em palavras. No Caxola, a beleza acre do cotidiano veste traje de gala.

sexta-feira, maio 21, 2010

O parto do poema

Por entre veias e artérias, brota a poesia. Farta. Bruta. Sem freio. Estende fios ao redor do coração. Enovela. Espreme. Até que dos sentimentos sobre o sumo. A poesia não tem outra cor: a poesia é vermelha.

Do coração, o poema grita ao cérebro por palavras. Ainda zonzas, despertam. Olhos semi-cerrados. Tateiam. A poesia urra: pressa. As palavras atropelam-se. Posicionam-se. E trocam de lugar. Posicionam-se. E trocam de lugar. Empurram. Pisoteiam.

Ordem. A poesia ofega. Desacelera. Suspira.

Um rompante rasga a calmaria.

Num salto cego palavras pulam para o papel. Encarnam o branco. Dilaceram o silêncio. Emaranham-se. Com a unha, garroteiam a fibra da celulose. Esganam. Resignado, o papel sangra a poesia.