Caxola

Idéias flutuam pela ruas da cidade. Nadam pelos ares em busca de ouvidos atentos e ansiosas por olhos curiosos. Meu prazer voluntário é capturá-las, vesti-las de sedas e traduzi-las em palavras. No Caxola, a beleza acre do cotidiano veste traje de gala.

sábado, maio 11, 2013

Um só coração


Ela andava triste. Suspirava como a tentar puxar no ar o cheiro do passado. Suas duas filhas sairiam de casa naquele ano. Um ano, duas despedidas. Sabia que poderia vencer a distância, mas tudo agora parecia um ponto final. O convívio diário, os hábitos, a certeza de que as duas estariam sempre ali, ao alcance de seus braços. Nada como antes.

E se esquecessem a luz ligada ao dormir? E se precisassem ir até um lugar longe num dia de chuva? E se tivessem dor de estômago de madrugada? Quem as acudiria?

Ao mesmo tempo, pensava se tinha ensinado às filhas todo o necessário. Teria esquecido algo? Pensava. E lhe vinham à cabeça desde as coisas mais prosaicas até as mais exuberantes. Impossível ter certeza. A única certeza era a saudade.

Aniversariava uma semana antes do dia das mães. E foi quando suas filhas lhe surpreenderam com uma caixinha preta. Abriu o embrulho, desfez o laço. Dentro, uma corrente, com suas duas pequenas em forma de pingentes. Para lembrar que não há distância no mundo capaz de separar o coração de uma filha do coração de sua mãe.

"Settle down, it'll all be clear. Don't pay no mind to the demons. They fill you with fear. The trouble it might drag you down. If you get lost, you can always be found. Just know you're not alone. 'Cause I'm going to make this place your home." [Home, Phillip Phillips] 



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