Caxola

Idéias flutuam pela ruas da cidade. Nadam pelos ares em busca de ouvidos atentos e ansiosas por olhos curiosos. Meu prazer voluntário é capturá-las, vesti-las de sedas e traduzi-las em palavras. No Caxola, a beleza acre do cotidiano veste traje de gala.

sábado, janeiro 14, 2012

Uma vida de menos

É costume. A gente sempre quer mais. O ano novo chegou faz pouco. E você deve lembrar de tudo o que pediu a mais para 2012. Mais dinheiro. Mais amor. Mais paz.

Menos, menos, menos. É tudo o que quero pelos próximos anos de vida.

Quem luta por mais dinheiro fica mesquinho. Por mais amor, egocêntrico. Por mais paz, bem... adiante falaremos de utopia.

Dinheiro é bom, sem dúvidas. Mas quanto vale um sapo entalado na garganta? E um ranário inteiro no estômago? Quanto vale o seu estômago? Já calculou quanto custa sua gastrite por ano? Eu calculei.

Com antiácidos gastei mais de R$ 100. Uma endoscopia de R$ 200. Uma consulta no gastroenterologista de R$ 300. Meu estômago, em 2011, deu prejuízo de R$ 600. Some-se o (alto) custo da dor e da depreciação do órgão. Por baixo, R$ 1 mil no ano.

Dá para comprar três pares de brincos lindos de cristal Swarovski. Dá passagem de ida e volta para Buenos Aires – e, na promoção, sobra grana para a hospedagem. Dá para armar um churrasco de patrão por semestre e gastar lá todo o estômago que você economizou.

Passa ano e a gente vai pagando pelo ranário no estômago. Depois de um certo ponto, sequer o sente. E quer mais.

Amor. Taí uma coisa relativa. Se você pede mais amor – tendo ou não alguém para chamar de amor - provavelmente você não precisa de mais amor, mas de menos neurose, menos encanação, menos implicância e menos exigências. Tirando tudo isso, o amor corre lépido e faceiro.

E a paz, meu bem, se você não é candidata a miss universo, já deveria ter desencantado dessa bobagem. Se alguém quer mais paz nesse mundo, está disfarçando bem. Porque nem se repara.

Condena a Igreja Católica, mas olha feio para a sua filha de minissaia. Fala aos brados contra a Kim Jong-il, mas fecha a cara quando recebe uma crítica. E faz vodu para quem ousou apontar um defeito dessa pessoa tão linda que é você.

Horroriza-se com a crueldade de Kadafi, mas xinga em e-mail coletivo seu subordinado. E-mail coletivo, esse pelourinho corporativo. Humilhação pública, exemplar, sem chance de defesa e com vasta plateia para escarnecer do pobre homem amarrado ao tronco. Ah, a evolução da sociedade.

Menos, menos, menos. Pai do Céu, nessa vida me dê menos estresse, menos juízo e, por obséquio, menos calorias. Serei assim, com menos para mim, feliz por demais.

"Todo mundo vive triste. Fala, fala, o dia inteiro. O mal de toda essa gente é a falta de dinheiro. Tudo passa nessa vida, nada fica pra semente. Não se matando a tristeza, a tristeza mata a gente." [Bamboleô, Carmen Miranda]

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