A pressa e o tempo
Cabelo de fogo. Boca de matraca. Olhar de raio. É a pressa. Funga no cangote meu um suspiro frio. Abafa a cautela. Expõe ao risco. É a pressa. Pra ontem. Corre contra o relógio. Tropeça no anti-horário. Hora de entrega. É a pressa. Pra já.
Rodamoinho encobre meu pescoço. Antes vento nos calcanhares. Agora tornado nos ouvidos. Venta forte. Confusão. Tonta, tateio a saída. Por aqui? Por acolá? Pra já. Feio, mas feito.
Inimigo da pressa, o tempo desliza pelos ponteiros. Segue o sacolejar do sol. E acomoda-se faceiro. Na poltrona das horas cheias. À espera do célere desfecho da pressa.
Telefone chia, urge, urra. Erro.
O alerta soa. Poeira voa. Erro. Erro. Erro. Resgato a pressa. Mergulho com ela. Solução, cadê? Calma. Respira. Pra já. Calma. Pra ontem. Toma. Corrige.
Vergonha encolhe meu peito. Avermelha minha face. Esfacela meu ânimo.
Num choroso contraste, a pressa encontra o tempo. Ele, olhos baixos. Ela, boca franzida. “Pedi a ti cautela”, resmunga ele, com voz de manteiga. “Era pra já”, sibila ela, com espinhos na língua. “Acalma-te”, recomenda o tempo. “Erramos”, admite a pressa.
Cabisbaixos, tempo e pressa dão-se os braços. E seguem tortos por um roto caminho. De iludida perfeição. De comovida imperfeição.
Insanity laughs under pressure we're cracking. Can't we give ourselves one more chance? [Under pressure, Queen]
Marcadores: erro, falha, internet, jornalismo, pressa, repórter, tempo
3 Comments:
Nem tinha lido antes de te mandar o email hehe. Muito bom texto! Como te admiro! beijos, te amo!
Este comentário foi removido pelo autor.
só sendo repórter pra entender essa frustração. nem sei se é questão de sorte, ou de aprender a lidar com o tempo. mas desconfio que esse a gente não tem como controlar mesmo, quanto mais nessa profissão. não sei!
pelo menos valeu a reflexão e o belo texto!
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