Ódio. E por que não?
Em raro dia de folga matinal, abro os olhos com manha. Arrasto meu pijama-de-ursinhos da cama para o sofá. Com o pote de iogurte na mão e o pão com margarina equilibrado no joelho, ligo a TV. Uma neblina insiste em embaçar meus olhos, mas já escuto bem. A cinqüentona apresentadora de voz slow motion recita versos adocicados:
"Pense que todos os sentimentos ruins, negativos, atingem o seu coração, mancham o seu espírito, trazem tristeza, e até doenças. O melhor é deixar passar, relevar, perdoar."
No programa de culinária, a receita da felicidade cor-de-rosa. Tape com seda florida seu lado feio. Enterre com pás de ouro em pó seus maus pensamentos. Gurus pré-fabricados pregam a complacência absoluta. Amar é pop. Nada é mais in do que um bom coração. Em meio a tanto pão-de-mel, perde-se a dor. A mágoa. A ferida. A indignação.
Sentada em meio a almofadas e calçando meias coloridas, sei do meu lado mau. Ainda com a colher do iogurte presa entre os dentes, lembro do que diz minha vó: “Amor e ódio, sentimentos irmãos”. E acredito em cada palavra do que a abuelita diz. Creio e sustento: se pensar no Fulano me causa borboletas no estômago, pensar em Sicrano é um soco no mesmíssimo lugar.
Arranco um naco do pão. A margarina escapa para os cantos da minha boca. Alguns tenebrosos sentimentos se ajeitam debaixo de minha blusa de moletom. Malévolos pensamentos se enrolam em meus caracóis castanhos. Respiro fundo. Meu coração, de amor e de ódio, suspira uma certeza: melhor assim! Raiva amordaçada arranha o esôfago e sufoca o cérebro. Felicidade de boutique apodrece mais rápido que queijo de minas fora da geladeira. Bondade resignada? Só com coração de pedra, cara amiga da TV.
"Pense que todos os sentimentos ruins, negativos, atingem o seu coração, mancham o seu espírito, trazem tristeza, e até doenças. O melhor é deixar passar, relevar, perdoar."
No programa de culinária, a receita da felicidade cor-de-rosa. Tape com seda florida seu lado feio. Enterre com pás de ouro em pó seus maus pensamentos. Gurus pré-fabricados pregam a complacência absoluta. Amar é pop. Nada é mais in do que um bom coração. Em meio a tanto pão-de-mel, perde-se a dor. A mágoa. A ferida. A indignação.
Sentada em meio a almofadas e calçando meias coloridas, sei do meu lado mau. Ainda com a colher do iogurte presa entre os dentes, lembro do que diz minha vó: “Amor e ódio, sentimentos irmãos”. E acredito em cada palavra do que a abuelita diz. Creio e sustento: se pensar no Fulano me causa borboletas no estômago, pensar em Sicrano é um soco no mesmíssimo lugar.
Arranco um naco do pão. A margarina escapa para os cantos da minha boca. Alguns tenebrosos sentimentos se ajeitam debaixo de minha blusa de moletom. Malévolos pensamentos se enrolam em meus caracóis castanhos. Respiro fundo. Meu coração, de amor e de ódio, suspira uma certeza: melhor assim! Raiva amordaçada arranha o esôfago e sufoca o cérebro. Felicidade de boutique apodrece mais rápido que queijo de minas fora da geladeira. Bondade resignada? Só com coração de pedra, cara amiga da TV.
2 Comments:
Encaracolada Carol, acredito mais em Gandhi e no Buda do que na cinquentona e te digo: expurgar os sentimentos venenosos do coração faz com que a gente se revolte consigo mesma. são dois lados da mesma moeda sempre, mas sempre é apenas um que aparece quando ela cai na nossa mão.
Respondendo...
Gi, impressionante como aprendi extamente isso nessa semana. Tu estás certa. Conversaremos.
Saudades e fiquei feliz com o papo de casamento. E tb com o de eu me mandar pra floresta. A selva de pedra cansa.
Beijão
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