Caxola

Idéias flutuam pela ruas da cidade. Nadam pelos ares em busca de ouvidos atentos e ansiosas por olhos curiosos. Meu prazer voluntário é capturá-las, vesti-las de sedas e traduzi-las em palavras. No Caxola, a beleza acre do cotidiano veste traje de gala.

domingo, abril 23, 2006

Repórter. Que futuro?

Vim ao mundo para ser repórter. A mais árdua das funções jornalísticas é minha causa. Respiro fatos. Transpiro histórias. Alimento-me de novidades. Transbordo de caracteres. Ando alerta pelas ruas da metrópole. Anoto em meus olhos cada nova pauta que pula das ruelas. Gravo em minha cabeça as cenas de um cotidiano acre. Traduzo em palavras a crônica rude de cada dia.

Mas não é tarefa fácil. O jornalismo me expulsa, repórter, de seus domínios. Quer-me assessora. Quer-me publicitária. Quer-me robô programável e frio. O mercado se fecha para mim, repórter, como um tubarão a devorar sua presa. Imóvel. Ferida. Tenho medo de seguir em frente. De perder o sangue quente. O olhar audacioso. A pergunta afiada. Repórter, questiono minhas convicções diante do futuro incerto.

Em crise interna e interminável, encontro consolo em uma sala morna do centro da cidade. Colegas reúnem grupos de iniciantes para descobrir neles repórteres. Os mestres de cerimônia têm cabelos brancos. Cabeças calvas. Bigodes espessos. Viveram a era de ouro do nosso jornalismo. Viveram a era de chumbo do nosso jornalismo. Com a naturalidade de uma conversa de botequim, contam memórias. O senhor de madeixas prateadas e indescritível brilho nos olhos me encanta: “A reportagem é – e sempre será – a alma do jornalismo”.

As palavras do veterano pairam no ar. Entram macias em meus ouvidos. Como uma doce melodia. Fazem cócegas em meu coração. Acarinham minha alma. Despertam-me de meus medos paralisantes. E me devolvem a tenacidade de repórter. Futuro sim. Futuro há! Construído pelas mãos de moças como eu. E de rapazes como você. Edificado por seres perguntadores. Moldado pela inquietude febril de questionadores compulsivos.

Façamos, pois, companheiros de bloco de anotações, a reportagem. Sujemos os pés com barro. Arranhemos as mãos no arame farpado. Pelos fatos. Pelo público. Pelo jornalismo honesto e democrático. Utópica, porém viável, eis a reportagem do futuro. Que começa, hoje, no presente.

* Crônica apaixonada com a qual conquistei minha vaga no curso de jornalismo aplicado de meus sonhos, na capital paulista.
** Sim, é Carolina na foto. Prova de que a pessoa é para o que nasce.

1 Comments:

Blogger Ronin said...

Sabe, Carol...cada vez mais gosto do seu texto. É bom conhecer gente como eu, que tem as mesmas convicções que eu. Pintou uma oportunidade legal de trabalho pra mim na área de informática e ao mesmo tempo, estou inscrito em alguns programas de estágio pra ser repórter foca do jornal daqui.
No entanto, eu preciso trabalhar pra roda da vida ir pra frente...então vou trabalhar e no quarto ano eu tomo a decisão da minha vida. Enquanto isso, vou misturando um pouco de tudo, afinal, somos brasileiros e temos um jogo de cintura ímpar.
Beijo

04 junho, 2006 11:08  

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