Caxola

Idéias flutuam pela ruas da cidade. Nadam pelos ares em busca de ouvidos atentos e ansiosas por olhos curiosos. Meu prazer voluntário é capturá-las, vesti-las de sedas e traduzi-las em palavras. No Caxola, a beleza acre do cotidiano veste traje de gala.

terça-feira, março 14, 2006

Todos, severinos

Filhos do mesmo solo. Terra de nossa gênese. E de nosso juízo final. Seja ela chão rachado do sertão. Seja ela asfalto cinza de metrópole. Somos todos severinos. Vendendo a alma por um pão francês. Vendendo a alma por um Porsche prateado. Somos todos severinos. Vivemos como severinos. E como severinos morreremos. Um dia cairemos, todos, severinos. Suspiraremos a última lástima. Sorriremos a derradeira alegria. E sucumbiremos ao funéreo fim. Num determinismo poético. Num tapa de luva do destino. Que nos iguala, severinos.

“Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima, a de tentar despertar terra sempre mais extinta, a de querer arrancar alguns roçado da cinza.” [Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto]