Caxola

Idéias flutuam pela ruas da cidade. Nadam pelos ares em busca de ouvidos atentos e ansiosas por olhos curiosos. Meu prazer voluntário é capturá-las, vesti-las de sedas e traduzi-las em palavras. No Caxola, a beleza acre do cotidiano veste traje de gala.

sexta-feira, maio 12, 2006

A Poeta Nua

É. Esse é um texto auto-referencial e baseado em fatos verídicos. Tudo o que eu falar diz respeito a mim mesma, menina de cabelos confusos e idéias encaracoladas que tu já conheces tão bem. Conheces? Ou será que entrastes aqui pela primeira vez? Quem és tu que me espreita com esse ar curioso sem que eu saiba? Cubro meus ombros com uma manta grossa. Quem pensas ser para olhar assim meus tornozelos? Puxo um xale até o pescoço.

Minhas maçãs do rosto se avermelham. Aperto o lábio entre os dentes, acanhada por ser observada assim, tão de perto, por alguém cujo nome sequer conheço. Abrir meu coração para ti me provoca arrepios. Não sei o que farás com as labaredas e com as pedras de gelo que lá encontrares. E se jogares princípios de incêndio em folhas secas? Ou fizeres pesar meus cubos de neve? O que poderia eu fazer para reagir a tais insultos? Nada. Estou nua. Estou à mostra para quem digita o endereço ali de cima. Isso assusta.

Assusta tanto quanto encontrar um desconhecido no meio da sala ao chegar em casa. Sentado com os pés em cima da mesinha de centro. Olhando os quadros surrealistas que pendem das paredes, enquanto me rouba um cigarro. Assusta ver alguém entrar assim em meus pensamentos. De onde vieram tantas pessoas bater na minha porta? Interessados em minhas palavras rimadas, esses transeuntes deixam bilhetes, escrevem cartas, esquecem pratos na pia da cozinha.

Varro os rastros dos desconhecidos que vieram jantar sem aviso prévio. E sento na poltrona. Despida de panos. Nua de máscaras. Pra pensar em mais um texto. Fisgo um par de grandes olhos a me mirar. Cogito me esconder atrás de uma almofada. Bobagem. Para que servem as palavras se não para serem paridas e lidas? Para que escrevo senão para mostrar-me?

Entre, camarada. Fique a vontade. A casa é sua.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Te cuida aí, mulé!
Saudades! Bjos!

16 maio, 2006 14:42  
Anonymous Anônimo said...

sublime.

amei esse.

tu é otima, sabia?

20 maio, 2006 00:04  
Blogger Carolina Freitas said...

Obrigada, Ana querida.

Tu é que é.

20 maio, 2006 00:08  

Postar um comentário

<< Home