Caxola

Idéias flutuam pela ruas da cidade. Nadam pelos ares em busca de ouvidos atentos e ansiosas por olhos curiosos. Meu prazer voluntário é capturá-las, vesti-las de sedas e traduzi-las em palavras. No Caxola, a beleza acre do cotidiano veste traje de gala.

segunda-feira, junho 12, 2006

O dia dos [ex] namorados

Para lembrar e para esquecer, nada melhor do que um 12 de junho silencioso e frio. Quero a companhia somente de meus pensamentos. Eles ocupam espaço suficiente em meu quarto bagunçado. Toco um jazz na caixa e me largo na poltrona. Aquela doce esperança de que o príncipe um dia vai chegar não existe mais. O aperto dolorido de uma paixão mal sucedida também se foi. Há muito.

Meus meninos estão dentro do meu peito. Os que eu amei e que não me amaram. Os que me amaram e que eu não amei. Todos eles. Gastei tantas lágrimas com angústias coronarianas ao longo destes meus 15 anos de romances. Sim, pois lembro do primeiro piá por quem me apaixonei, quando tinha cinco anos. Assim como lembro do último cara por quem meu coração quase parou de bater. Talvez hoje seja o dia de lembrar para esquecer. Um dia dos ex-namorados.

Revivo os beijos. Cada noite e cada amanhecer. Os versos que escrevi. E foram muitas as palavras rimadas. Vivi amores. Morri de amores. Cada história deixou uns 500 gramas de chumbo em meu peito. Com o tempo, esse contrapeso começa a fazer mal às costas. Hora de se livrar do excesso de carga. É hoje o dia ideal.

Assim, esqueço de lembrar. Deixo pra trás o reencontro com que sempre sonhei. O dia ideal. O lugar ideal. O menino ideal. A Carolina ideal. É finda aqui a minha brava busca pelo par-perfeito. Chega de colocar lentes azuis pra ver a realidade. O pôr-do-sol desse 12 de junho nas pedras do Arpoador já é colorido o suficiente para alegrar meu peito. Para me fazer sair da poltrona e ir molhar os pés na água gelada do mar. Como fiz outro dia com Fulano, a quem jurei paixão eterna. E noutro ainda com Beltrano, com quem planejei casamento. Aliviem-se, meninos, parei de sonhar.

It's that ole devil called love game. Gets behind me and keeps giving me that shove again. Putting rain in my eyesTears in my dreams. And rocks in my heart. It's that sly ole-sun-of-a-gun again. He keeps telling me that I'm the lucky one again. But I still have that rain. Still have those tears. And those rocks in my heart. [That Ole Devil Called Love, de Billie Holiday]

Texto de 2005, Rio de Janeiro.
Novas palavras sobre amor [ou o que o valha] ainda esta semana.
Fique comigo. Sem conotações românticas, por favor.

9 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Tu tem sorte por eu não ser bolacha...

Porque esse texto ta apaixonante, gata!

;)

Eu ja senti tanto isso... demais ate. Por isso eu não acredito em ti. Um coração congelado diz que não, mas quer desesperadamente um aquecedorzinho. E um dia vem. Ate lá, dureza é a melhor defesa. Tá certa.

12 junho, 2006 19:23  
Anonymous Anônimo said...

A dureza me impede de comentar o comentário em público.

A Ana querida gostou tanto do texto que levou ele emprestado lá pro Adelaides, www.adelaides.com.br, site super hiper mega legal, com texto de gente igualmente hiper mega legal.

Fiquem com eles também! Não tenho ciúmes.

13 junho, 2006 00:38  
Anonymous Anônimo said...

Agora que já fui bem acolhido por tuas palavras (já que elas assentaram bem em meus sentidos), vou continuar este caminho para conhecer-te melhor o timbre... Belo texto! Decantadas as paixões, o que permanece?

14 junho, 2006 23:08  
Anonymous Anônimo said...

Breve Adendo: A Poeta Nua é soberbo. Só não sei se o tecido do texto não é exatamente o que nos cobre a nudez e a rudez dos sentimentos!

14 junho, 2006 23:13  
Anonymous Anônimo said...

Desculpa a quebra do silêncio, a inopitada invasão, o arroubo de um comentário... Mas estou até agora arrepiado com "O consumo do mendigo. Ou o mendigo consumido." Meus olhos sorvem-no como se fosse uma cachaça que me leva a flutuar 'no ar como se fosse um pássaro'. Tens um grande tino de observação. Sem dúvida, és uma grande repórter!

15 junho, 2006 00:00  
Anonymous Anônimo said...

Merci merci, queridos. Fico meio encabulada com os elogios, mas, invariavelmente lisonjeada. Feliz que as minhas trançadas palavras caiam tão bem no ouvido (ou olhos) de vocês.

Voltem sempre

*Obs: acho que não conseguirei cumprir a promessa de escrever sobre amor. prefiro descobri-lo antes.

23 junho, 2006 23:31  
Anonymous Anônimo said...

Minha linda "afilhada" carol!!!!
Sou leitora fiel de teus escritos e queria dizer que ao menos assim te sinto pertinho, como nos tempos de CLJ. No fim, acabo me divertindo com as histórias que lembro daqueles remotos tempos!

Parabéns!!

Saudades de ti, querida!
um beijo

24 junho, 2006 02:28  
Anonymous Anônimo said...

Como sempre...talento até parece nato. Me senti lendo um grande poeta boêmio. Desses típicos do centro. Desses que contam Lucíolas, Macabéias e Mariazinhas.
Adoro sua sensíbilidade, adoro suas palavras e adoro seu rostinho. Mais do que tudo, adoro estar conhecendo esse ser que se mostra cada dia mais iluminado.

Um bjo Cá.

Da Ca (RF)

26 junho, 2006 10:13  
Blogger Debby Janczura said...

Já escrevi tantas vezes que parei de sonhar....
Tentativas frustradas de convencer a mim mesma.
No fim sempre vem a paixão, o frio na barriga e o embrulho no estomago e mais um vez tenho que engolir aquelas palavras...


Mas adorei o texto... me identifiquei muito

beijão

16 julho, 2010 16:26  

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