Caxola

Idéias flutuam pela ruas da cidade. Nadam pelos ares em busca de ouvidos atentos e ansiosas por olhos curiosos. Meu prazer voluntário é capturá-las, vesti-las de sedas e traduzi-las em palavras. No Caxola, a beleza acre do cotidiano veste traje de gala.

sábado, janeiro 17, 2009

Medidas

Pé ante pé. Olha de soslaio. Cuida d'ali. Cuida de cá. Ninguém perto. Estômago vazio. Comida nem água. Nada.

O dedão do pé direito livra a sapatilha roxa do calcanhar esquerdo. O do pé esquerdo, do calcanhar direito.

Desabotoa a calça escura. Folga a cintura. Empurra o jeans quadril abaixo. Passa. Pernas abaixo. Tira. E atira longe.

Cruza os braços em frente ao tronco. Prende com cada mão uma ponta da blusa amarela. Puxa. Ombros acima. Passa. Braços acima. Tira. E atira longe.

Torce os braços para trás. Dedos treinados. Num clique, abre o sutiã. Desliza as alças pelos ombros até os cotovelos. E dali elas escorrem rumo ao chão.

A mínima peça resiste. Engancha um indicador do lado de cá. E o outro do de lá rente ao quadril. Mira o espelho. Em frente. Enfrente. Escorre pelas pernas o último pano.

Olha de soslaio. Cuida d'ali. Cuida de cá. Ninguém perto. Desata os cabelos. Longa cachoeira ruiva cai sobre as costas. Cócegas.

Pé ante pé. Sobe com o pé direito. O ponteiro vence a inércia. E corre para a direita. Sobe com o pé esquerdo. Prende a respiração. Cerra os olhos. Deixar pender a cabeça para frente. E olha.

Cócegas nas bochechas. Dentes inquietos. Sorriso. Recolhe pelo quarto os vestígios. Veste-se.

Dá as costas à balança. Um último olhar por cima dos ombros. Adeus a sete quilos. Até nunca mais.