Caxola

Idéias flutuam pela ruas da cidade. Nadam pelos ares em busca de ouvidos atentos e ansiosas por olhos curiosos. Meu prazer voluntário é capturá-las, vesti-las de sedas e traduzi-las em palavras. No Caxola, a beleza acre do cotidiano veste traje de gala.

quarta-feira, abril 26, 2006

Teimosia

Ela nasceu na capital gaúcha. Trabalhou no jornal da cidade. Bebeu na Funhouse. Passou por ele num domingo na Praça da Encol. Mudou para a Cidade Maravilhosa em 2004. Dançou na Casa da Matriz e molhou as canelas no mar de Copacabana. Ali na altura do Posto 3. Cruzou com ele na Avenida Rio Branco. Um pra cada lado. Quase no início de 2006, mudou para a Terra da Garoa. É jornalista e escreve por gosto e vício. Tem boca grande e olhos verdes. Ontem, sentou num boteco da Zona Sul, e, pela primeira vez, olhou para os olhos dele. E jogaram conversa fora sobre o acaso.

Ele nasceu na capital gaúcha. Trabalhou no jornal da cidade. Dançou na Funhouse. Passou por ela num domingo na Praça da Encol. Mudou para a Cidade Maravilhosa em 2004. Bebeu na Casa da Matriz e molhou as canelas no mar de Copacabana. Ali na altura do Posto 3. Cruzou com ela na Avenida Rio Branco. Um pra cada lado. Quase no início de 2006, mudou para a Terra da Garoa. É jornalista e escreve por vício e gosto. Tem olhos verdes e boca grande. Ontem, sentou num boteco da Zona Sul, e, pela primeira vez, olhou para a boca dela. E jogaram conversa fora sobre o destino.

Ela, convicta, não acredita no acaso.

Ele, resoluto, não crê em destino.

Here, making each day of the year. Changing my life with a wave of her hand. Nobody can deny that there's something there. There, running my hands through her hair. Both of us thinking how good it can be. Someone is speaking but she doesn't know he's there. [Here, There And Everywhere, de The Beatles]

domingo, abril 23, 2006

Repórter. Que futuro?

Vim ao mundo para ser repórter. A mais árdua das funções jornalísticas é minha causa. Respiro fatos. Transpiro histórias. Alimento-me de novidades. Transbordo de caracteres. Ando alerta pelas ruas da metrópole. Anoto em meus olhos cada nova pauta que pula das ruelas. Gravo em minha cabeça as cenas de um cotidiano acre. Traduzo em palavras a crônica rude de cada dia.

Mas não é tarefa fácil. O jornalismo me expulsa, repórter, de seus domínios. Quer-me assessora. Quer-me publicitária. Quer-me robô programável e frio. O mercado se fecha para mim, repórter, como um tubarão a devorar sua presa. Imóvel. Ferida. Tenho medo de seguir em frente. De perder o sangue quente. O olhar audacioso. A pergunta afiada. Repórter, questiono minhas convicções diante do futuro incerto.

Em crise interna e interminável, encontro consolo em uma sala morna do centro da cidade. Colegas reúnem grupos de iniciantes para descobrir neles repórteres. Os mestres de cerimônia têm cabelos brancos. Cabeças calvas. Bigodes espessos. Viveram a era de ouro do nosso jornalismo. Viveram a era de chumbo do nosso jornalismo. Com a naturalidade de uma conversa de botequim, contam memórias. O senhor de madeixas prateadas e indescritível brilho nos olhos me encanta: “A reportagem é – e sempre será – a alma do jornalismo”.

As palavras do veterano pairam no ar. Entram macias em meus ouvidos. Como uma doce melodia. Fazem cócegas em meu coração. Acarinham minha alma. Despertam-me de meus medos paralisantes. E me devolvem a tenacidade de repórter. Futuro sim. Futuro há! Construído pelas mãos de moças como eu. E de rapazes como você. Edificado por seres perguntadores. Moldado pela inquietude febril de questionadores compulsivos.

Façamos, pois, companheiros de bloco de anotações, a reportagem. Sujemos os pés com barro. Arranhemos as mãos no arame farpado. Pelos fatos. Pelo público. Pelo jornalismo honesto e democrático. Utópica, porém viável, eis a reportagem do futuro. Que começa, hoje, no presente.

* Crônica apaixonada com a qual conquistei minha vaga no curso de jornalismo aplicado de meus sonhos, na capital paulista.
** Sim, é Carolina na foto. Prova de que a pessoa é para o que nasce.