Caxola

Idéias flutuam pela ruas da cidade. Nadam pelos ares em busca de ouvidos atentos e ansiosas por olhos curiosos. Meu prazer voluntário é capturá-las, vesti-las de sedas e traduzi-las em palavras. No Caxola, a beleza acre do cotidiano veste traje de gala.

segunda-feira, março 01, 2010

A pressa e o tempo

Cabelo de fogo. Boca de matraca. Olhar de raio. É a pressa. Funga no cangote meu um suspiro frio. Abafa a cautela. Expõe ao risco. É a pressa. Pra ontem. Corre contra o relógio. Tropeça no anti-horário. Hora de entrega. É a pressa. Pra já.

Rodamoinho encobre meu pescoço. Antes vento nos calcanhares. Agora tornado nos ouvidos. Venta forte. Confusão. Tonta, tateio a saída. Por aqui? Por acolá? Pra já. Feio, mas feito.

Inimigo da pressa, o tempo desliza pelos ponteiros. Segue o sacolejar do sol. E acomoda-se faceiro. Na poltrona das horas cheias. À espera do célere desfecho da pressa.

Telefone chia, urge, urra. Erro.

O alerta soa. Poeira voa. Erro. Erro. Erro. Resgato a pressa. Mergulho com ela. Solução, cadê? Calma. Respira. Pra já. Calma. Pra ontem. Toma. Corrige.

Vergonha encolhe meu peito. Avermelha minha face. Esfacela meu ânimo.

Num choroso contraste, a pressa encontra o tempo. Ele, olhos baixos. Ela, boca franzida. “Pedi a ti cautela”, resmunga ele, com voz de manteiga. “Era pra já”, sibila ela, com espinhos na língua. “Acalma-te”, recomenda o tempo. “Erramos”, admite a pressa.

Cabisbaixos, tempo e pressa dão-se os braços. E seguem tortos por um roto caminho. De iludida perfeição. De comovida imperfeição.

Insanity laughs under pressure we're cracking. Can't we give ourselves one more chance? [Under pressure, Queen]

Marcadores: , , , , , ,