Brincando com fogo

Aniversário na família. Salgadinho. Doce. Bolo. Velhinha. Fósforo. Fim de festa. E mamãe decide ensinar tática infalível pra desvendar um inquietante mistério: onde está o amor da sua vida? Solteiros leitores, atentem os ouvidos.
Mamãe é boa nisso. Desde que saí dos cueiros, ela se dedica e me ensinar simpatias casamenteiras. Sem sucesso, é verdade. Mas ela se esforça. Mamãe fez – e pagou – incontáveis promessas a Santo Antônio. Isso explica o fato dela viver feliz, desde os 17 anos, ao lado de um belo par de olhos verdes, leia-se papai.
Voltemos aos festejos. A experiente devota de Santo Antônio pega meia dúzia de fósforos esquecidos perto da vela de aniversário. Inicia a mística operação. Assim: acenda um fósforo. Segure na horizontal. Quando estiver queimando, encoste na chama a cabeça de um outro fósforo, apagado. Assim que os dois queimarem, vire na vertical. Os fósforos queimarão grudados, um em cima do outro. Concentre-se. Pense no amor. Quando o fogo rarear, o palito de cima vai virar carvão e pender para um lado. Em outras palavras, o palito queimado vai apontar para a direção onde está o seu grande amor.
Feito isso, ela mostra como o cotoco de fósforo, certeiro, indica a direção em que papai estava sentado, logo ali perto. Espanto geral. Fé provada, as moças da mesa passam a testar a descoberta. Uma a uma, seguem o passo-a-passo e descobrem o sentido em que apontam seus corações. Teimosa, não me arrisco.
Despedidas feitas. Sala vazia. Sorrateira, roubo a caixa de fósforos. Onde estás, coração? Risco o fósforo. Uma rajada invisível o apaga. Ora! Risco outro. Sigo a risca os ensinamentos. Tento equilibrar um fósforo no outro quando...um deles cai na toalha. Princípio de incêndio ao lado do bolo de chocolate. A labareda tímida cresce. Dou tapinhas histéricos nas chamas tentando apagá-las. Chamusco meus dedos. Missão-bombeiro cumprida, vejo o rombo que fiz na toalha. Em volta do buraco, cinzas do fósforo e do tecido. Ali adiante, pedaços de dois fósforos. Pretos. Caídos. Sem direção.
Mamãe é boa nisso. Desde que saí dos cueiros, ela se dedica e me ensinar simpatias casamenteiras. Sem sucesso, é verdade. Mas ela se esforça. Mamãe fez – e pagou – incontáveis promessas a Santo Antônio. Isso explica o fato dela viver feliz, desde os 17 anos, ao lado de um belo par de olhos verdes, leia-se papai.
Voltemos aos festejos. A experiente devota de Santo Antônio pega meia dúzia de fósforos esquecidos perto da vela de aniversário. Inicia a mística operação. Assim: acenda um fósforo. Segure na horizontal. Quando estiver queimando, encoste na chama a cabeça de um outro fósforo, apagado. Assim que os dois queimarem, vire na vertical. Os fósforos queimarão grudados, um em cima do outro. Concentre-se. Pense no amor. Quando o fogo rarear, o palito de cima vai virar carvão e pender para um lado. Em outras palavras, o palito queimado vai apontar para a direção onde está o seu grande amor.
Feito isso, ela mostra como o cotoco de fósforo, certeiro, indica a direção em que papai estava sentado, logo ali perto. Espanto geral. Fé provada, as moças da mesa passam a testar a descoberta. Uma a uma, seguem o passo-a-passo e descobrem o sentido em que apontam seus corações. Teimosa, não me arrisco.
Despedidas feitas. Sala vazia. Sorrateira, roubo a caixa de fósforos. Onde estás, coração? Risco o fósforo. Uma rajada invisível o apaga. Ora! Risco outro. Sigo a risca os ensinamentos. Tento equilibrar um fósforo no outro quando...um deles cai na toalha. Princípio de incêndio ao lado do bolo de chocolate. A labareda tímida cresce. Dou tapinhas histéricos nas chamas tentando apagá-las. Chamusco meus dedos. Missão-bombeiro cumprida, vejo o rombo que fiz na toalha. Em volta do buraco, cinzas do fósforo e do tecido. Ali adiante, pedaços de dois fósforos. Pretos. Caídos. Sem direção.
"It's like 10,000 spoons when all you need is a knife. It's meeting the man of my dreams. And then meeting his beautiful wife. And isn't it ironic... don't you think? A little too ironic.. and yeah I really do think..." [Ironic, de Alanis Morissette]