Errar é santo

Certo dia, uma moça apaixonou-se pelo moço. Mais que se apaixonou. A moça amou o moço. Amou até mesmo os cuidados anti-calvice do moço. O moço amou a moça em igual proporção. Ou, pelo menos, foi o que disse à moça. E a moça acreditou. A moça, açucarada de amor, viu nele o moço de sua vida. E, a exemplo do amado, passou a rezar para Santo Antônio. O pedido era um só: o casório – o quanto antes e para sempre.
Era reza pra cá. Reza pra lá. Terços, rosários e escapulários em punho. Santo Antônio andou ocupado naqueles tempos. São muitos solteirões a socorrer. E um só santo para atender todos eles. Problemas estruturais celestiais. Deus anda estudando um remanejo de santos para esse departamento. O caso é que, com tamanha demanda, Santo Antônio acabou cometendo um engano: trocou os pedidos.
Assim mesmo, como fazem os atendentes com você no McDonald’s. Você reclama: ‘Olha, pedi Cheddar McMelt!’, e te respondem ‘Tem certeza que não era McFish?’. Desse jeito. Santo Antônio arranjou um bom casamento para o moço – o quanto antes e para sempre. MAS, erro número um, com uma outra, que não a moça. A moça, desconsolada, não pôde acreditar. Colocou o santo de cabeça pra baixo. Tirou-lhe o bebê do colo. Afogou-o num copo de água. Castigado, Santo Antônio lembrou que devia algo à moça. Sem pestanejar, erro número dois, concedeu o pedido.
A moça morreu aos 97 anos. Solteira. Virgem. E com todos os fios de cabelo sobre a cabeça.